A Luta por Acesso a Alimentos Orgânicos nas Periferias

Iniciativas buscam democratizar o consumo de produtos orgânicos e veganos entre as classes mais baixas no Brasil.

Uma pesquisa recente revela que apenas 9% dos brasileiros que consumiram produtos orgânicos entre abril e maio de 2023 pertencem às classes D e E.

O levantamento foi realizado pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis). Em contrapartida, o estudo também mostra que as mulheres entre 25 e 34 anos, com nível superior e uma renda mensal de R$ 2.500 a R$ 4.000, são as principais consumidoras desses produtos.

Para mudar esse quadro, empreendedores de várias periferias do Brasil têm se empenhado em iniciativas que promovem o acesso a alimentos orgânicos e veganos para as classes menos favorecidas. O objetivo é derrubar a ideia de que uma alimentação saudável é um privilégio dos mais abastados.

No interior de São Paulo, os gêmeos Eduardo e Leonardo Santos lideram o projeto Vegano Periférico, que oferece orientações sobre como ter uma dieta saudável e acessível.

Por sua vez, a paraibana Regina Tchelly promove oficinas e palestras em comunidades do Rio de Janeiro com o projeto Favela Orgânica, que visa aumentar a consciência sobre o desperdício de alimentos.

Conheça as Histórias

Os irmãos Eduardo e Leonardo, de 27 anos, cresceram na periferia de Campinas e estão à frente do Vegano Periférico, que acumula mais de 300 mil seguidores no Instagram. A plataforma, criada em 2017, proporciona dicas de como manter uma alimentação saudável sem produtos de origem animal, sustentando os dois irmãos financeiramente.

Diferentemente de muitos influenciadores, eles não aceitam publicidade. Além do Instagram, mantêm uma loja virtual onde vendem camisetas do projeto. Os gêmeos também atuam como colunistas e participam de eventos e palestras, pelos quais cobram uma taxa simbólica, com o intuito de tornar a “causa acessível a todos”.

“A página surgiu de um desconforto que sentíamos com uma abordagem elitista da alimentação saudável, voltada apenas para a classe média, que pode gastar em restaurantes e feiras distantes da nossa realidade”, explica Leonardo. Eles defendem uma perspectiva inclusiva que permite à população periférica entender e lutar pela alimentação sem produtos de origem animal, tornando-a acessível.

Eduardo não consome produtos de origem animal há 8 anos, enquanto Leonardo segue o mesmo caminho há 6 anos. Sem condições financeiras para consultar nutricionistas, eles baseiam sua dieta em estudos e pesquisas.

Os irmãos trocam alimentos de origem animal e industrializados por grãos, legumes e vegetais, comprando em feiras e hortas comunitárias, além de divulgar produtores locais e compartilhar receitas veganas. “Eu gasto, em média, R$ 70 por semana com legumes e verduras. Descobri uma horta orgânica próxima de casa, que me conecta a comerciantes locais”, afirma Leonardo.

Por sua vez, Regina Tchelly, de 42 anos, se mudou da Paraíba para o Rio de Janeiro há mais de 20 anos. Trabalhando como empregada doméstica, ela ficou alarmada com o desperdício de alimentos na cidade, especialmente em feiras livres. Em 2011, com R$ 140 arrecadados em uma vaquinha, ela fundou o Favela Orgânica, que visa transformar a relação das pessoas com os alimentos, evitando desperdícios.

O projeto oferece serviços gratuitos aos moradores, que apenas pagam por alimentos disponíveis nos finais de semana. Regina sustenta a iniciativa através de eventos e parcerias com nutricionistas, pequenos produtores e influenciadores, mantendo o projeto ativo sem patrocínios.

Essas histórias refletem a luta e a determinação de indivíduos que buscam democratizar o acesso a uma alimentação saudável e consciente nas periferias do Brasil.